Desemprego, mérito e individualismo
Na sociedade capitalista, tudo é mercadoria, valor de troca que se realiza no mercado em permuta com seu equivalente em dinheiro. A força de trabalho, conjunto de capacidades físicas e mentais de cada um, também é mercadoria, cujo valor de uso é cedido mediante o pagamento de um salário pago por quem adquiriu o direito de uso dessas capacidades. Esse comprador pode ser um indivíduo ou uma empresa que disponha de uma quantia (capital) que possibilita a montagem de um estabelecimento produtivo de bens e/ou serviços. O vendedor da força de trabalho é um empregado. As condições em que essa troca é feita expressam os resultados do confronto entre capital (compradores de força de trabalho) e trabalho (vendedores daquelas capacidades) na defesa de seus respectivos interesses e na configuração econômica, social e política da organização da produção social. Empregados assalariados são a maioria dos integrados a essa produção em sociedades de capitalismo maduro, mas tendem a ser uma categoria menos significativa em sociedades de capitalismo mais recente e periférico, nos quais a tendência é de comportar significativo contingente de trabalhadores sem contratos formalizados ou como trabalhadores independentes, autônomos e por conta própria. Esse é o caso do Brasil. O traço recorrente a qualquer dessas situações é a necessidade de obter algum ganho em moeda que permita aos trabalhadores adquirirem o necessário para sua sobrevivência, ou seja, as mercadorias de que depende para tal. O dinheiro é a mediação de tudo. Mas, além de ser a via pela qual cada um obtém os meios necessários à sobrevivência, o trabalho é também um fator de integração social, ainda que possa ser exaustivo, rotineiro, penoso, brutal e cuja finalidade seja estranha a quem o executa. Fazer parte de um grupo de pessoas envolvidas numa atividade comum, integradas num coletivo, possibilita a essas pessoas construírem as referências de sua própria existência e de seu lugar no mundo. A exclusão de significativo contingente de pessoas da produção social significa problema que pode atingir grande magnitude num determinado contexto, além de efeitos nefastos no âmbito pessoal e familiar dos desempregados.