Especialista alerta para risco de reurbanização da febre amarela
O aumento de casos da febre
amarela silvestre no Brasil gera grande apreensão entre os profissionais da
área da saúde. “O caso é preocupante e grave. A maior parte das pessoas
não apresenta sintomas inicialmente e a febre não tem tratamento”, destaca o
diretor do Centro Municipal de Saúde Oswaldo Cruz e professor de saúde pública,
Paulo Machado.
Quarenta mortes haviam sido
confirmadas, mas a suspeita é de que pelo menos 65 pessoas tenham morrido da
doença, de acordo com dados do Ministério da Saúde atualizados na quinta-feira
(26).
A doença não era registrada em
meios urbanos desde 1942 no país, mas nunca deixou de circular nas matas, entre
macacos silvestres, e em zonas rurais. O grande alerta agora é para a
possibilidade da volta da doença às áreas urbanas. “Os estudos mostram que apenas
60% da população está coberta pela vacina. É necessário 95% de cobertura da
população em áreas endêmicas, o que não vem ocorrendo. Eu, como profissional de
saúde, tenho uma grande preocupação com o risco de reurbanização da febre
amarela.”
Além disso, o professor defende
que o governo precisa adotar a estratégia de “bloqueio”. Diferente das
campanhas anuais de vacinação, o bloqueio impede que a doença saia do seu foco
inicial, ao vacinar as pessoas dos municípios no entorno da região afetada.
Uma vez que uma pessoa contrai a
doença, ela corre um grande risco. “A primeira fase da doença é assintomática.
A pessoa fica como se tivesse com qualquer outra virose. Algum tempo depois ela
parece estar curada, mas posteriormente a doença volta em sua segunda fase,
muito mais grave”, explicou o professor. Segundo ele, 15% das pessoas que
contraem a doença na fase inicial passa por essa parte secundária. “Desses 15%,
metade chega a óbito.”
Desde que as informações sobre a
incidência de febre amarela em Minas Gerais começaram a circular, a procura
pela vacina no município do Rio de Janeiro triplicou, o que esgotou as doses em
muitos pontos da cidade. Nas cidades do estado mineiro, mais afetado pela
doença até agora, metade da população está exposta ao vírus: apenas 49,7% da
população em Minas foi imunizada nos últimos dez anos, período de validade da
vacina.
De acordo com o professor, apesar
da vacina ser “suficientemente segura”, ela tem contraindicações, além de não
ser indicada para pessoas fora de áreas de risco, como o interior de Minas
Gerais, São Paulo, Bahia e agora o Espírito Santo. Ele também alertou que, no
caso de suspeita da doença, o uso de medicamentos baseados em ácido
acetilsalicílico deve ser evitado, assim como no caso da dengue.
“A vacina deve ser evitada por
alguém que estiver com imunidade baixa. Por exemplo, se estiver se recuperando
de alguma outra doença. Não devem ser vacinados pessoas que forem alérgicas à
proteína do ovo, e também não é aconselhável a mulheres no período de
gestação.” Para o professor, a vacina é voltada principalmente para pessoas que
vão viajar para áreas afetadas.
Em relação às restrições etárias,
ele explicou que qualquer pessoa acima dos 9 meses de idade pode tomar a
vacina. “A idade é a partir dos 9 meses. Numa situação de surto, como agora,
pode ser até a partir dos 6 meses. Antes disso, jamais. Vacinar um
recém-nascido pode provocar uma doença neurológica grave ao bebê.” O professor
complementou que idosos podem tomar a vacina normalmente, desde que estejam com
um quadro imunológico positivo.
O tipo mais comum da doença, a
febre amarela silvestre, é transmitida pelos mosquitos haemagogus e sabethes.
Já a versão urbana da doença é transmitida pelo mesmo mosquito transmissor da
dengue, da chikungunya e do zika vírus: o aedes aegypti.
Levando em consideração a guerra
que vem sendo perdida contra esse mosquito ano após ano, o professor falou das
chances de a febre amarela se tornar uma epidemia nacional. “A chance de
epidemia nacional é pequena. Até porque o período de incubação é curto. Então,
se você estiver infectado, mas for picado pelo mosquito fora desse tempo
definido de viremia, ou seja, com a presença do vírus no sangue, não há
possibilidade de transmissão”, concluiu.
LOCAIS DE RICOS
Locais com matas e rios onde o
vírus ocorre naturalmente são identificadas como áreas de risco da febre
amarela. No Brasil, a vacinação é recomendada para as pessoas a partir de 9
meses de idade que residem ou se deslocam para os municípios que compõem a Área
Com Recomendação de Vacina, conforme conta no mapa https://goo.gl/Dft1BK